Presidente da Fiepe sobre tarifa de Trump: "Pernambuco tem muito com o que se preocupar"

Bruno Veloso foi recebido pelo programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta sexta (11) para comentar os impactos da tarifa em Pernambuco

Publicado em 11/07/2025 às 15:10 | Atualizado em 11/07/2025 às 15:14
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O programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, recebeu na manhã desta sexta-feira (11) o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, para comentar os impactos das tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos importados do Brasil.

A medida, revelada na última quarta-feira (9), passa a valer a partir de 1º de agosto e preocupa setores estratégicos da economia pernambucana, como o sucroalcooleiro, a fruticultura e a indústria metalmecânica.

Assista a entrevista completa e com imagens aqui

Como as tarifas impactam o estado de Pernambuco?

Bruno Veloso destacou que Pernambuco será um dos estados mais afetados pela nova tarifa dos Estados Unidos, já que mantém relações comerciais relevantes com o país norte-americano.

"Pernambuco tem muito com o que se preocupar, e não só Pernambuco, o país inteiro. O Estado exporta para os Estados Unidos açúcar, hortifutre, frulticultura, além de chapas de aço. Ou seja, essa medida nos afeta diretamente: atinge a indústria metalmecânica, o polo de fruticultura e as usinas."

"A exportação de Pernambuco para os Estados Unidos, em 2024, foi de 180 milhões de dólares. Desse montante, só 53 milhões de dólares foram de açúcar. Então, é de impactar diretamente o setor sucroalcooleiro aqui de Pernambuco."

Possíveis alternativas para Pernambuco

Bruno Veloso também apontou que, embora a fruticultura pernambucana possa encontrar novos mercados com relativa facilidade, o mesmo não se aplica aos produtos industrializados.

"Vai haver uma demanda de alimento muito grande no mundo. E essa demanda pelos produtos hortifruti de Pernambuco sempre vai ter um mercado a ser preenchido em algum lugar do mundo. Então, é mais fácil nós desviarmos a fruticultura para outro estado."

"Mas, quando nós temos também uma exportação para os Estados Unidos de produtos industrializados, isso é muito mais difícil de ser transferido para outros países, porque o Brasil não é um país com uma indústria muito competitiva. Nós somos muito sobretaxados, e isso tira a nossa competitividade."

"Não é fácil desviar os produtos industrializados que estão indo para os Estados Unidos para outros lugares. É claro que isso vai ser sempre buscado. E temos que ter também uma preocupação muito grande com essa questão da retaliação."

Relação Brasil e Estados Unidos: quem precisa de quem?

O presidente da Fiepe também fez um alerta sobre os riscos de uma escalada nas tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Para ele, a relação entre os dois países é assimétrica.

"Nós não compramos produtos dos Estados Unidos porque queremos agradá-los. Nós compramos produtos dos americanos porque precisamos deles. Compramos máquinas, equipamentos, produtos que são a base de fertilizantes para a nossa agricultura. Então, se entrarmos nessa guerra, vai ser uma guerra de perde-perde."

"Nós significamos muito pouco para os Estados Unidos, e os Estados Unidos significam muito para o Brasil. É a nossa segunda maior relação comercial. Não faz sentido agravarmos ainda mais uma tensão que já está muito esticada. É preciso distensionar, é preciso ter cautela com as palavras, com o que se escreve, porque a lógica tem que ser econômica, e não a lógica política neste momento."

Próximos passos

Bruno também destacou que é papel das entidades representativas buscar diálogo com instituições como a Abrafutas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a embaixada brasileira para tratar do tema com responsabilidade.

Veloso enfatizou a necessidade de evitar confrontos com o governo norte-americano, considerando o perfil do presidente Donald Trump e a desvantagem do Brasil numa disputa comercial direta.

"É papel nosso estar em busca desse tipo de solução. Vamos, sim, procurar a Abrafutas. Vamos procurar conversar com a CNI, conversar com a nossa embaixada, buscar tratar desse assunto. [...] a gente precisa, primeiro, encerrar o bate-boca."

"Estamos falando de um presidente dos Estados Unidos que tem um emocional muito instável. E, na hora em que ele é provocado, ele reage de forma exacerbada. Por isso, precisamos ter cautela com as palavras, cautela nas ações, deixar que os nossos diplomatas tratem desse assunto."

"Estamos falando de uma briga desproporcional. A nossa representatividade lá nos Estados Unidos é pequena, e ele pode nos substituir facilmente."

Possibilidade do mercado chinês

Ao comentar alternativas diante das tarifas impostas pelos EUA, Veloso mencionou o mercado chinês como uma possibilidade, mas com ressalvas.

"Essa possibilidade sempre existe: o mercado chinês. É um mercado que, basicamente, recebe das nossas exportações produtos agrícolas e commodities. Nós não conseguimos entrar no mercado chinês com produtos industrializados. A China é um país que tem uma capacidade produtiva industrial muito forte — eu diria que é a maior do mundo."

"A nossa relação com os Estados Unidos representa o tipo de exportação que a economia brasileira deseja: produtos industrializados."

"Estamos saindo de um possível mercado que nos interessa muito, que traz valor agregado à nossa produção, e migrando para um cenário muito mais competitivo. Para a China, eu acredito que não vamos conseguir fazer essa transição, até porque a própria China exporta para cá produtos já acabados, como aço laminado."

"O que a gente consegue continuar mandando para a China são o minério de ferro e os produtos hortifrutigranjeiros. Vamos continuar e até ampliar essa parte. Isso é mais simples, porque o mundo todo clama por alimento, e nós temos uma produção de muita qualidade. Vai ser mais fácil."

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