"Pode virar uma pirotecnia política": cientista político vê risco de desvio das funções do Senado por interesses eleitorais

André Costa avalia que, em ano eleitoral, atuação do Senado pode ser guiada por interesses políticos e gerar novas tensões institucionais

Publicado em 24/07/2025 às 11:14
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O Senado Federal tem ganhado protagonismo no cenário político nacional, e isso já se reflete nas articulações para as eleições de 2026. Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o cientista político André Costa analisou a disputa que se desenha pela vaga de senador por Pernambuco, avaliou o fortalecimento da Casa nos últimos anos e alertou para o risco de que suas prerrogativas sejam usadas com fins eleitoreiros.

Senado ganha força, mas o terreno é perigoso

Segundo André, o Senado sempre teve atribuições relevantes no sistema político brasileiro, mas agora elas estão mais em evidência, especialmente no que diz respeito a julgamentos de ministros do STF e sabatinas de indicados à Corte.

Além de atuar como uma Casa revisora "das pautas que chegam no Congresso, há uma característica que vem se somando a esse fator, que é o peso político que está se dando nas próprias competências que tem do Senado", explica, acrescentando o exemplo de julgar os crimes de responsabilidade.

Esse novo cenário, no entanto, exige atenção quanto à forma como a competência vai ser utilizada. Desviar a finalidade ou fazer dela meramente uma pauta é algo que o cientista político classifica como "uma pirotecnia política, o que é muito sério", alerta.

Disputa para o Senado em Pernambuco está aquecida

André Costa avalia que, pela primeira vez desde a redemocratização, a função institucional do cargo pode influenciar na decisão do eleitor. Ele diz que o peso das prerrogativas do Senado vem sendo absorvido pelo senso comum.

"Isso vem sendo cristalizado em conversas cotidianas de todo mundo, ou seja, isso ganha um ambiente de rua, de conversa", afirma, lembrando que, historicamente, o voto para o Senado sempre foi mais vinculado a nomes ou grupos políticos do que às atribuições reais do cargo.

Entre os nomes colocados até agora na corrida por Pernambuco, embora surjam novos, ele nota uma repetição de quadros políticos tradicionais. "É como se a gente tivesse uma permanência dentro desses mesmos espaços e ambientes de grupos políticos que já ocupam", pontua.

A influência da polarização na disputa pelo Senado

Expandindo para o ponto de vista nacional, o professor vê a eleição de 2026 marcada por dois vetores: o bolsonarismo e o peso da máquina federal. Ele reconhece que o campo bolsonarista tem uma base consolidada, "e que dentro de uma eleição majoritária isso pode até se cristalizar mais", analisa.

Ao mesmo tempo, ele acredita que o apoio do governo federal deve fazer diferença. "A máquina pesa, o governo, por óbvio, vai ter uma condição de manejar pauta política, condição de candidatura, que a gente sabe que isso faz diferença", afirma.

Apesar das movimentações, André Costa evita previsões. Ele argumenta que o cenário ainda é incerto e que há muito espaço para mudanças até o próximo ano. "Fazer qualquer tipo de previsão para uma eleição, que ainda falta um ano dentro disso, é um pouco pretensioso demais".

Tensão entre poderes acende alerta sobre uso das atribuições do Senado

O uso das prerrogativas do Senado também deve entrar no centro do debate político. Em casos como o julgamento de ministros ou a análise de indicações ao STF, como a de Verônica Abdala, ele enxerga sinais de tensão entre os poderes. Segundo André Costa, essas competências vêm sendo moldadas conforme o contexto político, o que exige vigilância.

Ele reforça, ainda, que o exercício dessas funções precisa estar alinhado ao interesse público e não deve ter sua finalidade desviada: "tem que estar dentro do interesse da sociedade, do Estado", conclui.

Ouça o Passando a Limpo desta quinta-feira (24)

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