Armando Monteiro Neto defende que Brasil acione setor empresarial dos EUA para conter tarifação de Trump

Ex-ministro diz que taxação tem motivação política e cobra atuação firme do governo e do setor empresarial para evitar prejuízos ao Brasil

Publicado em 10/07/2025 às 11:04 | Atualizado em 10/07/2025 às 11:20
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A ameaça de novas tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos contra o Brasil, anunciadas na última quarta-feira (10) pelo presidente Donald Trump sob alegação de retaliação política, acendeu o alerta no setor industrial brasileiro.

Para o ex-senador e ex-ministro Armando Monteiro Neto, conselheiro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), trata-se de uma medida inusitada e grave, que exige reação firme e coordenada entre governo e iniciativa privada para evitar impactos severos em setores estratégicos da economia nacional.

Segundo Armando Monteiro, a ofensiva do ex-presidente Donald Trump não tem base em um contencioso comercial real, mas é motivada por uma indisposição política com o governo brasileiro e com decisões da Justiça. A declaração foi dada em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

“É uma medida de caráter político, nitidamente de caráter político”, afirmou. Ele classificou como absurda a tentativa de punir o Brasil economicamente por questões internas da política brasileira. “Você está impondo ao Brasil um custo direto do ponto de vista econômico".

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Embora a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras tenha diminuído ao longo dos anos, representando hoje cerca de 12% do total, Monteiro alerta que os impactos da medida podem ser profundos em setores específicos, como o de bens manufaturados.

“O Brasil exporta muitos produtos siderúrgicos para os Estados Unidos, produtos semiacabados. A Embraer tem participação importante no mercado de jatos regionais. Exportamos também máquinas e equipamentos. Muita gente não se dá conta disso.”

Além da indústria, o agronegócio também pode ser afetado, ainda que em menor proporção. Monteiro lembrou que o Brasil fornece suco de laranja, café, açúcar, madeira e celulose ao mercado americano, e que parte significativa do consumo nos Estados Unidos vem de fornecedores brasileiros.

A importância de manter o diálogo com o setor privado americano

Diante da gravidade do cenário, o ex-ministro defende uma reação estratégica, que combine firmeza e pragmatismo. De um lado, ele diz ser necessário reafirmar a soberania brasileira e não aceitar ingerência estrangeira.

“O Brasil é um país soberano e não pode admitir que um presidente americano diga que um processo que corre na justiça brasileira tem que acabar. Isso é inaceitável. Nós não somos uma republiqueta de banana.”

Por outro lado, Monteiro vê como fundamental o fortalecimento de laços com o setor empresarial dos EUA. Ele observa que muitas exportações brasileiras são feitas por empresas americanas instaladas no Brasil que abastecem suas próprias matrizes. “É importante manter esses canais com o setor privado americano, porque o setor privado americano pode atuar junto ao governo americano.”

Ele cita como exemplo o suco de laranja, do qual 70% do consumo norte-americano vem do Brasil, e o café, em que o Brasil também detém fatia expressiva do mercado americano. A articulação com esses setores, segundo ele, pode pressionar o governo dos EUA a rever ou atenuar as medidas.

O papel do governo brasileiro na crise

Questionado sobre o papel que o governo brasileiro deve desempenhar, Monteiro afirmou que é possível ampliar o diálogo institucional com os Estados Unidos, mesmo diante das dificuldades diplomáticas recentes.

Ele lembra que o vice-presidente Geraldo Alckmin, atual ministro da Indústria e Comércio, já se reuniu com autoridades do governo americano em ocasiões anteriores e pode intensificar esse canal.

“Não acho que os canais estejam obstruídos inteiramente, mas é preciso um esforço efetivo das áreas do governo para ampliar essa comunicação com o governo americano”, avaliou. Para ele, a articulação institucional deve andar lado a lado com a atuação do setor privado, em uma frente coordenada.

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Armando Monteiro também destacou que empresas brasileiras e americanas já mantêm canais abertos com o Departamento de Comércio dos EUA e com o Congresso, por meio de câmaras de comércio e entidades como a própria CNI. Para ele, é hora de intensificar essa rede de diálogo, aproveitando o peso econômico do Brasil.

“O Brasil é a principal economia da América Latina. É um ator relevante sob qualquer aspecto. Na medida em que se ampliam os contatos, o governo americano pode vir a recuar ou moderar essa posição que é absurda, autoritária, e não condizente com a tradição dos Estados Unidos”, afirmou.

Preocupação com a liderança americana

Monteiro lamentou a condução política de Trump e disse que os Estados Unidos, sob sua liderança, vêm “queimando um capital político” acumulado ao longo das décadas.

Ele criticou ainda o ataque a instituições multilaterais, a política anti-imigração e até a relação do governo americano com universidades e centros de conhecimento. “É um momento que coloca muita preocupação em relação à ordem mundial".


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