Parlamentares pagam menos IR do que trabalhadores comuns, explica especialista
Enquanto trabalhadores pagam imposto sobre toda a renda, deputados são tributados apenas sobre o salário, isentando auxílios e verbas indenizatórias

Deputados federais pagam até três vezes menos Imposto de Renda (IR) que grande parte do resto da população. Em entrevista ao "Passando a Limpo" desta quinta-feira (27), na Rádio Jornal, a pós-doutora em direito tributário e presidente do Centro Nacional para a Prevenção e Resolução de Conflitos Tributários (CENAPET) Mary Elbe explicou o porquê dessa disparidade tributária.
Segundo a doutora, os parlamentares pagam o IR apenas sobre o salário, a parte dos ganhos que é considerada subsídio, que fica em torno de R$ 46 mil, deixando de fora os valores recebidos em forma de auxílio, como o auxílio-moradia, de R$ 4.253, a cota para o exercício da atividade parlamentar, que vai de 30 até 49 mil reais, as diárias de viagem, de R$ 842 por dia, e a ajuda de custo, paga no início e no fim do mandato, que soma mais R$ 46 mil.
Por lei, esses valores não são tributados. A maioria é classificada como verba indenizatória e não entra na base de cálculo do Imposto de Renda. Devido a isso, mesmo que a soma dos valores recebidos ultrapasse os R$50 mil, os deputados pagam a mesma alíquota de quem recebe R$4,6 mil, de 27,5%.
Além disso, a situação continuará a mesma caso a reforma do IR proposta pelo governo seja aprovada, que isenta quem ganha até R$ 5 mil e aumenta a tributação sobre quem ganha acima de R$ 50 mil (vão pagar, além dos 27,5% atuais, mais 10%), já que os parlamentares continuarão tendo apenas o salário de R$ 46 mil tributado.
.
Moralidade questionada
Mary Elby explica que alguns dos valores extras e isentos recebidos pelos congressistas, como auxílio-moradia, são tributados no caso de um trabalhador comum que recebe um benefício com essa denominação.
Para ela, é possível que o recebimento dos auxílios pelos parlamentares seja justificado, tendo em vista as despesas do trabalho político, mas a isenção da tributação desses valores é questionável, tendo em vista que trabalhadores comuns não têm o mesmo privilégio.
“Eu não estou discutindo se é justo ou injusto o pagamento dessas verbas para eles, mas, comparando com quem é assalariado, eles [os deputados] têm uma proteção de ter esses valores isentos”, aponta a especialista.
Nava isenção do IR é justa?
Comentando sobre a proposta de reforma do IR apresentada pelo governo, a especialista em Direito Tributário considera ser justo que trabalhadores que recebem até R$5 mil fiquem isentos. “Não dá para sobreviver com decência”, diz, afirmando que o custo de vista atual justifica que se aumente a isenção para esse grupo.
No entanto, Mary Elby critica o aumento da tributação sobre quem recebe R$50 mil proposto pelo governo com o projeto de lei. Para ela, essa solução deixa de fora grupos como o dos parlamentares e o judiciário, que também não pagam impostos sobre muitos dos valores que recebem a mais, como auxílios, que se enquadram como verba indenizatória.
Ao mesmo tempo, ela argumenta que a taxa de 10% a mais que será aplicada a quem ganha mais de R$ 50 mil, caso o PL seja aprovado, recai sobre empresas e desestimula a produtividade e a geração de empregos no país.
Saiba como assistir aos Videocasts do JC