Bolsonarismo tropeça em crise com Trump e Lula ganha fôlego para 2026
Cientista político Adriano Oliveira afirma que erros da direita criam cenário favorável à reeleição do presidente, mesmo com baixa popularidade

A recente ameaça do presidente americano Donald Trump de taxar em 50% os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos reposicionou os principais atores do cenário nacional, incluindo o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o cientista político Adriano Oliveira avalia que houve uma virada clara no jogo político. Segundo ele, até poucos meses atrás, a reeleição do presidente Lula era considerada improvável, mas os erros da direita bolsonarista criaram as condições ideais para o petista se fortalecer.
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"Lula já estava derrotado. E de repente tudo mudou", afirmou. Para ele, o presidente colhe agora os frutos do radicalismo de Jair Bolsonaro, que passou a defender com mais veemência sua anistia, evocando o trumpismo no debate público. Esse gesto, na visão de Oliveira, foi um presente para Lula: “Ele ganhou um prêmio”.
Além disso, ele destaca o simbolismo do presidente da Câmara, Hugo Motta, ao derrubar o IOF, o que fortaleceu o discurso de Lula em favor dos pobres diante dos ricos.
A ameaça feita por Donald Trump de taxar o comércio brasileiro em 50% também contribuiu para a construção do que Oliveira chama de “conjuntura perfeita” para a reeleição de Lula.
“Essa conjuntura perfeita trará imediatamente popularidade para o presidente? Eu verifico que não”, pondera, ao lembrar que a recuperação de imagem não será automática.
Oliveira também criticou os governadores aliados a Bolsonaro, como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Ronaldo Caiado, que desperdiçaram a chance de se distanciar do bolsonarismo. Segundo ele, ao atacarem Lula e defenderem Bolsonaro, perderam a oportunidade de construir uma via alternativa à polarização.
“O presidente Lula, no altar da sua sabedoria, trouxe a discussão da soberania”, afirma o cientista político.
Ao comentar a postura do governo brasileiro diante das ameaças de Donald Trump, Adriano Oliveira foi enfático: “Não existe negociação política para lidar com o presidente Trump”.
Para ele, as instituições brasileiras não estão em negociação, nem o Supremo Tribunal Federal, nem o Ministério Público. E é justamente o respeito de Lula às instituições que fortalece sua imagem perante o eleitorado mais moderado. “O presidente Lula sabe lidar com o sistema, ele sabe negociar com o sistema. Por isso ele não atenta contra as instituições”.
'Tarcísio não tem condições de ser presidente'
Entre os principais alvos da análise de Oliveira está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele vê no ex-ministro da Infraestrutura um exemplo de fragilidade política e ausência de autonomia. “Ele não tem autoridade, ele não tem opinião própria”, afirma.
O cientista político avalia que Tarcísio poderia ser uma alternativa ao bolsonarismo, mas suas atitudes revelam submissão a Bolsonaro. O episódio mais emblemático, segundo ele, foi a ligação feita por Tarcísio a ministros do STF para tentar liberar Bolsonaro para viajar aos EUA e negociar com Trump. “Veja o tamanho de Tarcísio de Freitas para lidar com a economia internacional”, ironiza.
Oliveira vai além: alerta que, dependendo do desenrolar dos próximos meses, Tarcísio pode inclusive deixar de ser favorito à reeleição em São Paulo. A postura ambígua e o alinhamento automático ao bolsonarismo podem abrir espaço para o avanço de candidatos do PT ou do PSB no estado.
Direita perde tempo e oportunidade
Na leitura de Oliveira, a estratégia da direita em insistir numa candidatura bolsonarizada enfraquece suas chances de retorno ao poder. “Se o presidente Lula disputar uma eleição contra um candidato bolsonarizado, ele estará no segundo turno e em condições de ser reeleito”, sustenta.
Na visão dele, embora haja rejeição a Lula, o eleitor médio ainda o vê como o "mal menor" diante de Bolsonaro. Por isso, ele considera um erro a manutenção de Tarcísio como aposta da direita. “Ele não tem posicionamento político”, repete.
Dado o peso de São Paulo na economia nacional e na relação com os Estados Unidos, Oliveira vê com preocupação as declarações públicas de Tarcísio em defesa de Bolsonaro, mesmo diante de ameaças concretas à economia paulista. “Como é que ele vai para o Twitter e defende Bolsonaro em vez de defender a economia de São Paulo?”, questiona.
Silêncio dos governadores é oportunidade perdida
Ao abordar a reação dos governadores à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, Oliveira lamenta o silêncio generalizado. Para ele, a maioria optou por um posicionamento neutro por enxergar o tema como mais um episódio da disputa entre Lula e Bolsonaro.
"Essa agenda não é uma agenda lulista versus Bolsonaro. É uma agenda do futuro da economia brasileira", argumenta.
Ele destaca que, salvo exceções pontuais, nem mesmo o Centrão se posicionou com clareza. “A classe política perdeu a oportunidade de se manifestar favoravelmente ao país”, resume.
Oliveira encerra sua análise com um aviso: "Políticos precisam ter posição. Isso é fundamental e os eleitores vão lembrar da posição desses políticos”. Para ele, a transparência e a clareza de posicionamento serão cada vez mais exigidas pelos eleitores nos próximos ciclos eleitorais.
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