"Vivemos tempos estranhos", diz Armando Monteiro sobre diálogo entre Brasil e EUA após tarifaço de Trump

Ex-senador critica enfraquecimento dos canais institucionais e cobra respostas rápidas do governo brasileiro para mitigar os impactos nas exportações

Publicado em 05/08/2025 às 16:11
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O ex-senador, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirmou nesta terça-feira (5), em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, que o Brasil enfrenta um cenário delicado após o anúncio do “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, sob decisão do presidente americano Donald Trump.

Segundo ele, cerca de 35% das exportações brasileiras foram atingidas por uma alíquota de 50%, o que, na prática, representa quase um embargo comercial, tornando inviável a venda de muitos produtos brasileiros ao mercado norte-americano.

“A alíquota de 50% cravada em parte das exportações representa quase um embargo. Isso inviabiliza completamente a venda de muitos produtos. É impraticável para quem vende”, afirmou.

Governo tenta articulação com os EUA

Armando Monteiro destacou que o governo brasileiro está mobilizado para tentar resolver a situação por meio da diplomacia e do diálogo bilateral.

Ele destacou a atuação do vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem mantido contato direto com o Departamento de Comércio dos EUA, além da agenda de Fernando Haddad com o secretário do Tesouro americano. Do lado empresarial, o ex-ministro ressaltou que há pressão crescente, inclusive de empresas americanas que têm relações complementares com o setor exportador brasileiro.

“Ainda há espaço para ampliar exceções. Alguns produtos afetam diretamente os interesses de consumo dos próprios americanos, com cadeias produtivas complementares às nossas”, explicou Monteiro.

Medidas compensatórias em estudo

Na tentativa de socorrer os setores mais prejudicados, o governo estuda medidas compensatórias, como linhas de crédito com juros mais acessíveis, adiamento de prazos de recolhimento de tributos, financiamento de capital de giro, e ampliação dos prazos de liquidação de contratos de câmbio.

“Estão sendo estudadas ações como ampliação de prazos para financiamento, liquidação de contratos, recolhimento de tributos e também linhas de crédito com taxas razoáveis”, explicou.

Também há a possibilidade de atuação na área de defesa comercial e o uso de créditos tributários acumulados para aliviar o caixa de empresas exportadoras.

Minerais críticos e perspectivas de médio prazo

Monteiro comentou ainda a estratégia sugerida por Fernando Haddad envolvendo a pauta dos minerais críticos, que poderiam se tornar ativos importantes em uma negociação com os EUA.

“Essa questão deve ser explorada, mas a médio prazo. Não é algo que vai resolver o problema no curto prazo. Pode ser útil no futuro, para atrair investimentos de empresas americanas que tenham interesse em explorar esses recursos aqui.”

Críticas à informalidade na interlocução com os EUA

O ex-senador fez críticas ao enfraquecimento dos canais diplomáticos e institucionais entre Brasil e Estados Unidos. Ele mencionou o protagonismo do deputado Eduardo Bolsonaro, que teria assumido um papel informal de interlocutor com a Casa Branca.

“Vivemos tempos estranhos. É absolutamente difícil compreender como os canais normais, institucionais, entre dois países como Brasil e Estados Unidos, possam ser secundarizados por vias informais. Eduardo Bolsonaro criou uma espécie de monopólio de interlocução com setores da extrema-direita americana”, afirmou.

Ele lamentou a ausência de um embaixador americano no Brasil e a falta de uma agenda de diálogo direto entre os presidentes. “Quando a crise veio, os sinais já estavam dados. Não ter um embaixador americano no Brasil era uma clara indicação dessa dificuldade no diálogo.”

Resposta brasileira deve ser rápida e coordenada

O ex-senador defendeu que o Brasil mantenha sua articulação com o setor privado e atue com agilidade para responder aos efeitos da medida americana, inclusive pensando na concorrência de terceiros países, que devem intensificar sua presença no mercado americano.

Monteiro também defendeu que o governo pense em medidas emergenciais e estratégicas para sustentar os setores impactados. “Além da frente institucional, temos que agir para preservar empresas e empregos. Estão sendo discutidas medidas como extensão dos prazos de financiamento, flexibilização no recolhimento de tributos, e linhas de crédito com condições razoáveis, para que essas empresas possam respirar.”

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