Frutas, açúcar e etanol: entidades em Pernambuco cobram reação diplomática às tarifas de 50% dos EUA

Programa Passando a Limpo conversou com os presidentes da Abrafrutas e do Sindaçúcar/PE, que apontam riscos imediatos à economia regional

Publicado em 01/08/2025 às 13:00 | Atualizado em 01/08/2025 às 13:16
Google News

A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros acendeu o alerta entre produtores de manga, açúcar e etanol do Nordeste. A medida afeta a competitividade no Vale do São Francisco e também a cota histórica de isenção para o açúcar nordestino, em vigor desde 1960.

Para entender os impactos, o programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, ouviu Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas), e Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar/PE). Eles apontam riscos imediatos à economia regional e cobram reação diplomática urgente.

Prazo para exportação é apertado

Segundo o presidente da Abrafrutas, o setor foi pego de surpresa, tendo em vista que cacau, manga e café não eram produzidos nos Estados Unidos e lamentou que, ainda assim, a manga entrou no pacote de produtos tarifados em 50%.

As exportações da fruta ainda não começaram, mas o prazo é apertado para recalcular possíveis rotas. "Não tem manga no mar. Está tudo aqui no pé. Mas a partir de agora é que vai começar (a colheita)", explicou Guilherme. A variedade exportada, a Tommy Atkins, é específica para o mercado norte-americano, o que inviabiliza a venda para a Europa ou a absorção no mercado interno.

Impacto nos pequenos produtores

A cadeia da manga no Vale do São Francisco envolve milhares de trabalhadores, muitos que vendem a produção em consignação para as packing houses – onde frutas, legumes e verduras passam por preparação antes de serem distribuídas. Caso a tarifa permaneça, o impacto financeiro será severo: "Colapsa totalmente, o preço vai para o chão, não vale nem a pena colher", explica Guilherme.

O presidente também destacou o risco de inadimplência na região, visto que "todo produtor vai ao seu banco. Toma o seu custeio. Paga o custeio, renova. Outro toma investimento. Esse pessoal não vai ter como pagar. Aí começa a rolar a dívida. Dá carência. Confusão em cima de confusão", afirmou.

A colheita e exportação ocorrem em um intervalo curto de 90 dias, ou "tiro curto", como é chamado. Caso o impasse com os EUA não seja resolvido até o dia 6 de agosto, será difícil evitar prejuízos.

Governo federal e estadual acompanham o caso

Segundo Guilherme, as articulações com o governo brasileiro estão em curso, discutindo diretamente com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com a governadora Raquel Lyra, que "no primeiro dia começou a ver isso, me ligou preocupada. Eu tenho deixado o Palácio informado diariamente de tudo isso", afirmou. Apesar da confiança nas negociações, Guilherme admite que o cenário não permite espaço para um plano B.

Açúcar do Nordeste perde cota histórica com os EUA

A tarifa também atinge as exportações de açúcar do Nordeste, sobretudo de Pernambuco, que perdeu uma cota isenta de impostos mantida desde 1960. Segundo Renato Cunha, presidente do Sindiaçúcar, a medida é um golpe especialmente duro para a região, mesmo "que em termos de Brasil não é um volume grande, mas é uma cota emblemática para o Nordeste, que tem uma alta liquidez rápida para negociar".

Renato afirma que a imposição das tarifas é fruto de um "viés político". Ele defende o ponto com o histórico do tarifaço de Donald Trump, que "até em abril, o Brasil teve 10% de tarifação, foi uma das menores do mundo [...] Sobrou para a gente, para nós e para outros fornecedores", lamenta. 

Expectativa é que tarifas sejam revistas

Tanto no caso da manga quanto no do açúcar, o setor produtivo tem esperança de que as tarifas de 50% sejam revistas. "Estados Unidos não são autossuficientes, por exemplo, na questão do açúcar. Eles precisam de mais de 2 milhões de toneladas de açúcar", disse Renato Cunha.

Ele também relatou que houve contato recente do embaixador Mauro Vieira com o senador americano Marco Rubio, o que pode indicar avanços. "Foi uma viagem que plantou sementes junto ao Senado americano. Ainda temos esperança de que as cotas voltem ao normal".

Ouça o Passando a Limpo

Tags

Autor