Eduardo Bolsonaro nos EUA: entre lobby e estratégia política, ações repercutem no Brasil
Em entrevista à Rádio Jornal, especialista explicou que as ações de Eduardo Bolsonaro nos EUA buscam, principalmente, fortalecer o bolsonarismo

O advogado, cientista político e professor de Direito Constitucional Felipe Ferreira Lima, em entrevista à Rádio Jornal, analisou as ações do deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e suas repercussões para o cenário político brasileiro.
As atitudes do parlamentar — que afirmou estar no país para "atrapalhar qualquer tentativa de acordo entre o Brasil e os Estados Unidos" — têm extrapolado o campo doméstico e ganhado relevância no plano internacional.
Felipe Ferreira Lima destaca que há dispositivos legais que podem fundamentar eventuais medidas para conter essa tentativa de obstrução por parte de um parlamentar brasileiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) já instaurou um inquérito, que está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por conduzir o caso em razão do foro privilegiado de Eduardo Bolsonaro.
O especialista compara a situação ao caso da deputada Carla Zambelli, que buscou refúgio na Itália, e aponta que a questão central agora é entender "até que ponto esse lobby — e o lobby é permitido nos Estados Unidos — poderá avançar além do que já avançou".
Consolidação da base bolsonarista
No plano interno, as ações do deputado — como o apoio à anistia de envolvidos nos atos do 8 de janeiro e ao próprio pai revelam uma estratégia política definida. Segundo o especialista, dois aspectos merecem destaque:
Manutenção do eleitorado bolsonarista mais fiel: O objetivo é preservar a militância em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro e manter a centralidade da família na liderança da direita brasileira. As críticas recentes de Eduardo Bolsonaro a aliados como o governador Tarcísio de Freitas e o deputado federal Nikolas Ferreira ilustram a tentativa de reforçar essa centralidade.
Projetos políticos futuros e 2026: Outro objetivo importante, segundo Felipe Ferreira Lima, é manter a relevância política da família Bolsonaro. Em caso de eventual prisão do ex-presidente, a intenção seria preservar capital político suficiente para que ele ainda tenha influência nas articulações da direita, inclusive na definição de candidaturas para 2026. “Estamos vivendo, na verdade, uma preparação do grupo dele para o lançamento de uma candidatura. É o terreno político que está sendo preparado para 2026”, afirma o professor.
Consequências e perspectivas
Na prática, o que se pode esperar? Segundo o especialista, o primeiro teste será observar a real capacidade de influência de Eduardo Bolsonaro no governo norte-americano. Internamente, as investigações da PGR e as ações no STF estão em andamento. No entanto, o fato de ser alvo de inquéritos também pode ser explorado pelo grupo bolsonarista como narrativa de perseguição, reforçando o discurso de vitimização.
Mesmo assim, não está descartada a possibilidade de sanções mais severas, como a perda de mandato. Caso o tema chegue ao Conselho de Ética da Câmara, a discussão poderá ir além do campo ideológico, envolvendo diretamente os limites de atuação de um parlamentar — o que tende a ampliar a repercussão no Congresso. Felipe Ferreira Lima acredita que, diante das circunstâncias, "as portas sejam fechadas para que ele avance nesse lobby nos Estados Unidos".
Para as eleições de 2026, o especialista prevê que o núcleo político mais fiel ao bolsonarismo deve insistir na mesma narrativa, independentemente das consequências. Isso porque a estratégia discursiva — calcada no vitimismo — tem sido usada para garantir espaço nas articulações da direita. Ele destaca, ainda, que a chamada “direita democrática”, de perfil mais moderado, continua bastante refém do bolsonarismo. O posicionamento das chamadas “figuras satélites” da direita até o próximo período eleitoral, sobretudo durante as filiações partidárias e convenções, será determinante para os rumos de 2026.