Tarifas dos EUA são sanções econômicas e expõem isolamento do Brasil, avalia especialista

A declaração foi dada, nesta terça-feira (29), durante entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal

Publicado em 29/07/2025 às 14:08
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O professor de Relações Internacionais Rodrigo Lyra, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirmou, nesta terça-feira (29), que o tarifário de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos equivale, na prática, a uma sanção econômica.

Ele também apontou a fragilidade diplomática atual do Brasil como fator central para o agravamento do impasse. A declaração foi dada durante entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal. “Muitos nem chamam de tarifa, chamam de sanção, porque é inviável competir no mercado americano com produtos sendo tarifados em 50%”, afirmou.

Segundo o professor, os impactos já vêm sendo estimados. “O setor agro divulgou que a retração do PIB pode ser de 0,48%, o que em porcentagem parece pouco, mas em números absolutos é muito”, disse. Ele também lembrou que, segundo reportagem publicada no Jornal do Comércio, a Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) apontou risco para até 100 mil empregos.

Reação tardia do governo brasileiro

Rodrigo Lyra foi enfático ao afirmar que a resposta brasileira à ameaça tarifária foi lenta. “Estamos aos 48 do segundo tempo da prorrogação”, disse. Para ele, mesmo que o Brasil ainda consiga negociar exceções setoriais, como nos casos da Embraer e da celulose, o dano já está em curso.

“A Embraer pode perder até 50% do faturamento. Setores de frutas, suco de laranja, café também serão atingidos”, comentou.

Na avaliação do professor, a dinâmica da diplomacia internacional mudou, e a interlocução institucional entre o Itamaraty e o Departamento de Estado americano perdeu relevância. “A relação bilateral está cada vez mais personalista. Na medida em que o presidente Lula não tem uma boa relação pessoal com o presidente Trump, é muito difícil negociar”, disse.

Segundo ele, até os empresários americanos afetados pela medida estão sem acesso direto à Casa Branca. “As portas estão fechadas até para eles”, comentou, ao citar informações veiculadas por senadores brasileiros em missão nos EUA.

Alvo político e disputa com a China

O professor avalia que o pano de fundo das sanções pode não ser apenas comercial. Para ele, a aproximação do Brasil com a China por meio do BRICS — e especialmente a postura ativa de Lula em temas como a desdolarização — pode ter alimentado o desconforto com os EUA.

“O Bolsonaro é uma boa desculpa, mas talvez o cerne da questão seja afastar a América Latina da China. E o Brasil seria o grande exemplo”, afirmou.

Lyra lembrou que Lula foi o único dos líderes do BRICS que defendeu abertamente o fim do uso do dólar nas transações internacionais. “Nem China nem Rússia querem falar diretamente sobre isso”, destacou.

Futuro incerto

De acordo com o cientista político, no cenário atual, resta ao Brasil aguardar possíveis mudanças no Congresso americano nas eleições de “midterm”, que ocorrem em cerca de 15 meses. “Pode ser que o Trump perca uma das casas. Mas até lá, a gente vai sofrer bastante”, afirmou.

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