Porto Digital: Inovação transforma o Recife e olha para o futuro da RMR

O programa Giro Metropolitano deste sábado (26) recebeu Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, para discutir os desafios e oportunidades da Região Metropolitana do Recife. A conversa, conduzida por Natalia Ribeiro e Tony Araújo, abordou o impacto do Porto Digital no desenvolvimento da capital pernambucana e suas perspectivas de expansão e colaboração regional.

Pierre Lucena descreveu o Porto Digital como um distrito de inovação, uma área da cidade com política fiscal diferenciada para empresas de tecnologia e economia criativa. Comemorando 25 anos de existência, o Porto Digital cresceu de apenas duas empresas para 475 companhias e 21.500 colaboradores da economia do conhecimento, concentrados majoritariamente no Bairro do Recife.

Confira o programa na íntegra:

Os dois propósitos claros do parque tecnológico são o restauro do centro da cidade, especialmente do Bairro do Recife, e a geração de emprego, renda e inovação através da tecnologia e economia criativa. Embora não produzam bens físicos, as empresas do Porto Digital são responsáveis por tecnologias presentes em smartphones de diversas marcas no Brasil. O parque é diversificado, abrigando desde a principal empresa de segurança cibernética do Brasil, Tempest, até a Neurotec, uma das principais empresas de Inteligência Artificial (IA) do país.

A inovação, segundo Lucena, não surge de uma ideia, mas da resolução de um problema. Exemplos práticos do impacto do Porto Digital na vida urbana do Recife incluem os semáforos inteligentes (Serttel) e o projeto pioneiro de bicicletas compartilhadas. Empresas locais como a Avantia também são responsáveis pelo videomonitoramento com IA em diversas cidades do Brasil. Contudo, grande parte da produção tecnológica realizada no Porto Digital é para exportação, com poucos clientes locais, evidenciando que o trabalho é "do Recife para o mundo".

Desafios metropolitanos e a reforma tributária

Questionado sobre a inserção do Porto Digital na Região Metropolitana, Pierre Lucena ressaltou que "a grande saída econômica para a região metropolitana [do Recife] vai ser por aí [setor de serviço especializado de alto valor agregado]".

Ele alertou para os impactos da reforma tributária, que tornará os serviços mais caros e os produtos mais baratos, levando à concentração industrial em São Paulo e Manaus. Para o restante do Brasil, as indústrias regionais e, principalmente, o setor de serviços e conhecimento, como saúde e tecnologia, serão cruciais.

Lucena criticou a diferença no tratamento dado pelo poder público entre a indústria e o setor de serviços: enquanto fábricas recebem terrenos, capacitação e incentivos fiscais, empresas de serviço, como o Hospital Esperança, não recebem o mesmo suporte e, por vezes, enfrentam exigências de mitigação.

"O grande problema do Recife é a falta de renda das pessoas", disse. "Se você não resolver o problema econômico da estruturação da renda média das cidades e da distribuição delas, fica muito difícil", completou Pierre.

Ele ainda defende que é preciso adaptar-se e colocar tudo em um pacote de incentivo, pois o setor de serviços, como o de saúde ou o Porto Digital, pode gerar muito mais empregos com salários melhores.

Aproveitar o potencial da rede universitária de Pernambuco, que é "incrível" e proporcionalmente maior do que em estados do Sudeste, é fundamental para capacitar a mão de obra necessária.

Moradia e reconfiguração urbana no centro do Recife

A questão da moradia foi um ponto central na discussão. Há um desejo de que as pessoas que trabalham no Porto Digital também morem no centro da cidade, melhorando a mobilidade e o deslocamento. No entanto, o Bairro do Recife possui uma configuração complexa para habitação. Sendo um bairro tombado, o preço do metro quadrado para aluguel empresarial é o mais caro do Recife, mas as casas antigas são muito grandes para residências e pequenas para empresas, além de não possuírem garagem, tornando-as inviáveis para moradia.

Apesar de alguns projetos habitacionais estarem surgindo no Bairro do Recife, como o Moinho e projetos na Rua Rio Branco, a maior parte das pessoas busca moradia na Rua da Aurora. Pierre Lucena expressou que o ideal seria que o Bairro de Santo Antônio se tornasse um polo habitacional, devido ao seu "estoque imobiliário significativo" de mais de 200.000 m² desocupados. Ele enfatizou que, se não fosse o Porto Digital, o Bairro do Recife "seria certamente a cracolândia dentro da cidade", com 20.000 pessoas circulando diariamente, demonstrando a recuperação do local.

Embarque digital e o futuro da juventude

O programa "Embarque Digital", uma parceria com a Prefeitura do Recife, é destacado como o maior programa de formação do Brasil, custeando faculdade para 2.500 jovens e transformando suas vidas. A tecnologia representa uma "possibilidade incrível" de mudar a vida das pessoas, especialmente as em vulnerabilidade.

A expansão do modelo do Embarque Digital para outros municípios da Região Metropolitana, como o Cabo de Santo Agostinho, é "muito fácil" de replicar, dependendo do interesse das prefeituras. Lucena também sugeriu a universalização do ensino de programação no ensino fundamental II, como já ocorre em Portugal e na Índia, tratando a programação como uma nova língua.

O presidente do Porto Digital expressou grande preocupação com a juventude que já está excluída do mercado de trabalho, e com o impacto da inteligência artificial. Ele citou um estudo que mostra que nos últimos 10 anos surgiram 500 mil vagas de desenvolvedores de software no Brasil, enquanto 1,3 milhão de vagas de "negócios" desapareceram. A urgência de adaptar-se e incluir IA nos cursos de formação é clara.
Para Lucena, o maior problema do Recife não é o poder público em si, mas a falta de renda das pessoas. Resolver o problema econômico e a distribuição de renda é fundamental para enfrentar outros desafios urbanos. Ele defende que a solução está na inclusão das pessoas na economia do conhecimento através da educação, ciência e tecnologia.

Parceria com o Governo do Estado

A aproximação do Porto Digital com o Governo do Estado de Pernambuco é "grande". O presidente do Porto Digital confirmou a expansão para Caruaru, no Agreste, com inauguração prevista entre 28 e 30 de agosto, e o planejamento de ir para Petrolina, no Sertão, e outros dois polos avançados.

"Todos os projetos que eu tenho levado para a governadora Raquel, ela tem topado", disse Pierre. "[A governadora] tem sido muito parceira, aliás, ela já era parceira de de longa data", completou.

Ainda segundo o presidente, o Governo de Pernambuco firmou o maior contrato de gestão da história com a entidade. O festival de inovação "Rec'n'Play", que em 2022 teve 90.000 inscritos, é um "grande projeto de mobilização" que conecta jovens da periferia com o centro de inovação e o empreendedorismo.