Tarifaço: impasse segue sem solução para exportadores de frutas

A menos de 10 dias para a entrada em vigor, a taxa de 50% sobre produtos brasileiros coloca 77 mil toneladas de frutas em risco

Publicado em 22/07/2025 às 7:48
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Menos de 10 dias separam os produtores de frutas brasileiros da entrada em vigor de uma tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos do Brasil. A medida gera grande apreensão no setor, que ainda aguarda uma solução diplomática capaz de minimizar os severos impactos da nova tributação.

Representantes do governo e do setor produtivo se reuniram na semana passada, mas o encontro terminou sem a apresentação de uma alternativa prática por parte do governo federal.

Um levantamento exclusivo realizado pela Globo revelou a dimensão do problema: aproximadamente 77 mil toneladas de frutas estão em um limbo, aguardando uma definição para serem enviadas aos Estados Unidos.

Entre os produtos mais afetados estão as mangas e uvas produzidas no Vale do São Francisco. Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), expressou a preocupação crescente: "O prejuízo para a safra da manga já assusta os produtores que começaram a se preparar com antecedência".

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Impacto iminente e a preocupação dos produtores de manga

A situação é ainda mais crítica para a safra de manga, que está às vésperas de seu período de exportação para os Estados Unidos. Coelho explica o planejamento e a expectativa por trás dessa colheita: "nós estamos nas vésperas da safra da manga para os Estados Unidos. É uma safra de 75, 90 dias, onde a gente se prepara para isso durante 6 meses. É embalagem que a gente organiza, é reservar a navios, a logística, reservar os contêineres". Ele acrescenta que até mesmo os importadores americanos estão ansiosos para receber e distribuir as mangas aos consumidores.

O desafio da manga tommy e a inflexibilidade do mercado

A variedade de manga mais exportada para o mercado norte-americano é a Tommy. O grande desafio, segundo o presidente da Abrafrutas, é que redirecionar esse produto para outros países ou blocos comerciais não é uma tarefa simples. São cerca de 2.500 contêineres de manga Tommy, uma variedade que "não é bem aceita na Europa".

No continente europeu, as preferências recaem sobre outras variedades, como a Palmer, a Kent e a Keitt, e o mercado já está programado para recebê-las.

Além das diferenças de gosto, a logística e a embalagem se tornam um grande entrave. Guilherme Coelho detalha: "Já tem aqui uma parcela das mangas do Vale do São Francisco que vão para Europa. Então não tem como mover. A caixa que você manda a manga para os Estados Unidos. A caixa da manga da Europa é diferente. É outra caixa. Geralmente os supermercados têm a própria caixa".

A alternativa de escoar a produção para o mercado interno brasileiro também não é viável, pois causaria um colapso: "Se você pegar essa manga botar no Brasil, o mercado desaba. É tanta manga que não vai haver colheita".

Alimentos em risco: um apelo por bom senso diplomático

Para Guilherme Coelho, a prioridade em medidas tarifárias como essa deveria ser o bom senso para preservar os acordos comerciais de alimentos. Ele defende que o alimento deveria ser uma categoria isenta de tributação: "na minha cabeça, eu fico raciocinando, tinha que tirar o alimento de dentro dessa tarifa. Era como se fosse assim, é alimento, é consumido por pessoas, então isso tá isento, isso não pode ser tarifado".

O líder da Abrafrutas enfatiza a questão da insegurança alimentar global, presente em diversas partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos e no Brasil. "Eu costumo dizer que o mundo tem insegurança alimentar. Nos Estados Unidos tem. Tem pessoas sim que tomaram o café da manhã hoje e não sabem que vão almoçar. No Brasil tem, na África tem, no mundo inteiro tem. Então isso é uma coisa humana. As pessoas precisam saber que o alimento é uma coisa que precisamos todos os dias para sobrevivermos, para vivermos".

O risco se estende ao suco de laranja e bilhões em jogo

A ameaça da tarifa não se restringe apenas às frutas frescas. O levantamento também buscou dados junto à Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), que confirmou o risco iminente para o suco de laranja.

Na safra 2024/2025, a exportação de suco para os Estados Unidos atingiu a marca de 305 mil toneladas. Economicamente, essa operação representou um saldo de mais de US$ 1,3 mi para o Brasil, um valor significativo que agora está em xeque.

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