Tarifaço ameaça exportação de frutas do Vale do São Francisco, alerta presidente da Abrafrutas
Guilherme Coelho alerta que tarifa de 50% imposta pelos EUA trava exportações e ameaça produtores de manga e uva do Vale do São Francisco

A nova taxação anunciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros já afeta diretamente o setor de fruticultura do Vale do São Francisco, em Pernambuco. Em entrevista à Rádio Jornal, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho, afirmou que as exportações de manga para os EUA foram paralisadas e que o prejuízo pode ultrapassar os US$ 50 milhões.
“O que aconteceu foi uma desarrumação grande. Estados Unidos é um parceiro nosso há muitos anos. Com esses 50%, já fica inviável”, declarou Coelho, durante o programa Passando a Limpo desta segunda-feira (15).
Região concentra quase toda a manga e uva exportadas pelo Brasil
Ao comentar o peso econômico da fruticultura irrigada na região, o presidente da Abrafrutas destacou que o Vale do São Francisco responde por quase a totalidade das exportações brasileiras de manga e uva. A interrupção nos embarques afeta não apenas os grandes produtores, mas também pequenos e médios agricultores que integram essa cadeia.
“A cada 100 contêineres de manga exportados, 92 saem do Vale do São Francisco. De uva, são 95. É uma operação que movimenta pequenos, médios e grandes produtores”, afirmou.
Exportação para os EUA depende de janela estratégica
A safra afetada pela nova tarifa está concentrada entre agosto e outubro, quando o Brasil supre o mercado americano em um período com baixa oferta local. Também em agosto está previsto para ter início o tarifaço imposto por Donald Trump ao mercado brasileiro.
Guilherme explicou que essa janela é tradicionalmente ocupada pelo Vale do São Francisco e envolve uma operação complexa e planejada com antecedência.
“Os packing houses funcionam em dois turnos. Os empresários já fizeram estoque de caixas, reservaram contêineres e organizaram entregas. Agora, com essa taxa, tudo está paralisado”, relatou.
Falta de alternativa pode colapsar mercados
Com os embarques travados, a fruticultura nordestina enfrenta um desafio logístico e econômico: não há para onde escoar a produção. Segundo Coelho, redirecionar os volumes para a Europa ou o mercado interno é inviável e pode provocar colapsos.
“Se tentar mandar para a Europa, colapsa o mercado. Se for para o Brasil, colapsa também. É muita quantidade”, disse.
“Não existe redirecionamento de mercado assim. Há estruturas específicas nos países importadores que não podem ser substituídas de uma hora para outra", complementou.
Em resposta à medida dos EUA, representantes do agronegócio participaram de uma reunião no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em Brasília, para discutir os impactos da taxação. Guilherme Coelho foi convocado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
“É uma coisa de muita preocupação. O governo precisa nos ouvir. Isso atinge diretamente Pernambuco e Bahia”, destacou.
Setor teme desemprego e impacto social em massa
Coelho também alertou que o impacto pode chegar à base da produção. Sem alternativas para exportar, parte das mangas pode nem ser colhida, o que pode gerar desemprego em larga escala e dificuldades financeiras para o setor.
“Se brincar, esse produto vai ficar no pé da manga. Os custos não se pagam. Isso afeta o emprego, a renda e empresas sólidas que podem se atrapalhar financeiramente”, afirmou.
Durante a entrevista, Guilherme sugeriu a adoção de cotas de exportação com isenção de tarifa como uma possível solução emergencial. Ele defendeu que frutas e alimentos deveriam ter tratamento especial em acordos comerciais.
Guilherme também fez um apelo ao bom senso e ao diálogo entre os países. Segundo ele, a decisão do ex-presidente Trump mistura interesses econômicos e políticos, e ameaça a confiança construída ao longo de décadas.
“Vamos respeitar o produtor rural. Quem acorda cedo, convive com a chuva e a seca, para colocar comida na mesa das pessoas. Uma decisão como essa atrapalha a vida de quem produz e de quem precisa comer”, concluiu.