Carlos Bocuhy: A Nova Realidade Climática de Extremos e Incerteza Radical
Em pauta, condições climáticas extremas vivenciadas atualmente até os desafios da diplomacia ambiental e da educação para as futuras gerações

Em entrevista ao jornalista Igor Maciel no programa "Passando a Limpo" da Rádio Jornal, Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (IBPA), alertou para um cenário global de desequilíbrio climático e incerteza radical, destacando a necessidade urgente de adaptação e mudança de comportamento da sociedade. A conversa abordou desde as condições climáticas extremas vivenciadas atualmente até os desafios da diplomacia ambiental e da educação para as futuras gerações.
O desequilíbrio climático e seus extremos
Carlos Bocuhy descreveu a situação atual como um "desequilíbrio climático" provocado pelo aquecimento global, que gera "extremos". O presidente do IBPA mencionou contrastes marcantes: enquanto a Europa enfrenta uma onda de calor preocupante, com temperaturas atingindo 43ºC a 46ºC em alguns lugares e até 50ºC no solo, causando mortes, Brasília registrava um frio de 9ºC e uma umidade de 20%.
Essas condições são manifestações da "falta de estabilidade climática de extremos" causada pelo aquecimento global. Bocuhy explicou que esse desequilíbrio pode gerar:
• Frio extremo, como visto na Sibéria e outros locais.
• Verões muito mais intensos, com temperaturas extremas e ondas de calor.
• Grandes secas seguidas de eventos extremos.
• Inundações e chuvas extremas.
A principal preocupação é a necessidade de "salvaguardar a vida das pessoas" contra esses fenômenos, que já têm "matado muita gente mundo afora", citando casos no Oriente Médio e no Arizona.
O papel do Brasil na COP30 e os desafios geopolíticos
Questionado sobre o papel do Brasil como sede da COP30 e a lentidão de outros países em responder às variações climáticas, Carlos Bocuhy afirmou que o Brasil "está fazendo o seu papel". Ele destacou a tradição diplomática do país, sua atuação como interlocutor global e seu "DNA ambiental", sendo detentor de grande biodiversidade e florestas. No entanto, o problema reside na "resposta dos outros países". A conjuntura geopolítica global é "extremamente negativa" e desfavorável para a busca de soluções climáticas.
O "estado de guerra", como o conflito entre Rússia e Ucrânia, e a instabilidade no Oriente Médio. Essa conjuntura gera uma "instabilidade geopolítica e uma corrida em direção ao armamentismo", desviando a prioridade de investimento para a resolução dos problemas climáticos. Bocuhy salientou que a transformação global para enfrentar as mudanças climáticas demanda um volume de "10 trilhões de dólares por ano até 2050". Diante desse cenário adverso, o Brasil terá que fazer um esforço ainda maior para ser um "elemento catalisador", dando o exemplo e protegendo suas florestas.
Uma nova realidade climática: Incerteza radical
Durante a entrevista, o especialista foi questionado pelo jornalista Fernando Castilho sobre os efeitos climáticos que estamos sentindo são passageiros ou se representam um "novo padrão". Carlos Bocuhy foi enfático ao afirmar que "é uma nova, é uma nova realidade", caracterizada por "incerteza radical". Ele explicou que a série histórica que permitia previsões climáticas foi "praticamente descartada pelos meteorologistas", pois os dados referenciais anteriores "não valem mais para fazer previsão".
Essa "instabilidade" e "incerteza" exigem "muito mais cautela" na preparação da sociedade, pois os efeitos do clima têm sido "mais intensos, mais impactantes" e a velocidade do aquecimento global, "mais rápida do que se esperava".
Ainda de acordo com Bocuhy, o mundo precisa se preparar para essa realidade de "adaptação climática", pois não é possível "retroagir do estado atual de 1 grau". Essa temperatura deve se manter como base para os próximos 20 anos, com tendência a aumentar devido à continuidade do lançamento de gases de efeito estufa e da expansão de combustíveis fósseis. Ele concluiu que não há uma sinalização real de paralisação do processo, mas sim de um "agravamento cada vez maior".
Educação ambiental e a mudança de comportamento
A importância de aprender a conviver com essa nova realidade e se a educação das novas gerações está sendo eficaz também entrou em pauta. Carlos Bocuhy admitiu que "a gente não atingiu ainda essa fase de que a gente passe esse processo para uma sistematização do processo de educação".
As diretrizes de educação ambiental, definidas desde a conferência de Tblisi em 1987, são "plenamente conhecidas e muito praticadas em muitos países". No entanto, o sistema formal e informal de educação, inclusive no Brasil, "acabou não sendo suficiente para transformar o comportamento da sociedade" frente à percepção de que o mundo tem limites.
O grande desafio, segundo o presidente do IBPA, é "como mudar o comportamento da sociedade frente a esse desafio das mudanças climáticas". Ele destacou que o "negacionismo" em relação às mudanças climáticas impede o avanço de um comportamento mais efetivo, pois a educação visa justamente essa "mudança de comportamento"