Multilateralismo brasileiro reduz impacto de tarifa de Trump, avalia cientista político
Para Antônio Lucena, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump prefere combater os BRICS por causa da atuação da China na economia mundial

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou, na última segunda-feira (7), que os países ligados ao BRICS teriam uma tarifa adicional de importação de 10%.
Formado por Brasil, Rússia, Índia, China África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita, o bloco estava participando da Cúpula no Rio de Janeiro quando a declaração de Trump foi realizada e sinalizou "sérias preocupações" com as medidas protecionistas e unilaterais de comércio pelos Estados Unidos.
Em entrevista à Rádio Jornal, o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Antônio Lucena destacou que vê o assunto como “uma questão bastante polêmica”.
Para ele, a inclusão de outros países no grupo, que antes era formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, gerou como problema a “falta de consenso”.
“Países de várias regiões terminam gerando interesses conflitantes. Os interesses dos países originais, principalmente China e Rússia, terminam prevalecendo em relação aos demais. A cúpula teve uma declaração que eu considero relativamente inócua, sem algo muito claro”, explicou.
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Apesar disso, o cientista político apontou aspectos positivos na participação do Brasil no BRICS, ressaltando o ponto de vista comercial no cenário internacional.
“A China é uma das maiores importadoras do Brasil. Os chineses são responsáveis pela estabilidade da nossa balança de pagamentos e, por causa desse multilateralismo econômico que o Brasil fomentou, essas ameaças do Donald Trump da tarifa de 10% ficam menos fortes”, pontuou Antônio Lucena.
Atuação da China
Para o doutor em Ciência Política, Antônio Lucena, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump prefere combater os BRICS por causa da atuação da China na economia mundial.
“A China está buscando criar uma ordem internacional alternativa com a sua própria visão e uma das coisas que os BRICS propõem é demanda da China de criar um meio de pagamentos próprio, com uma cesta de moedas. Isso é uma coisa que, obviamente, desagrada os Estados Unidos, porque retiraria a primazia do dólar”, explicou.
Durante a entrevista, Antônio Lucena observou, ainda, que o Brasil deve manter, em termos econômicos, um certo grau de “universalismo”.
Para ele, o aumento das importações chinesas pode se tornar uma transferência de comércio, migrando dos Estados Unidos para a China por causa do tarifaço do Donald Trump. “Esse tipo de movimento realmente é muito preocupante”, finalizou.