"Precisamos de um modelo sustentável": conselheira alerta para rombo na Previdência causado por MEIs

Joana Dark Nascimento defende revisão das regras para MEIs e cobra fiscalização do governo para garantir equilíbrio fiscal e social

Publicado em 01/07/2025 às 14:16 | Atualizado em 01/07/2025 às 14:17
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Com mais de 16 milhões de cadastros ativos no Brasil, os microempreendedores individuais (MEIs) têm sido alvo de preocupação em estudos recentes sobre a sustentabilidade da Previdência Social. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou um déficit futuro de R$ 711 bilhões, atribuído ao modelo atual de contribuição dos MEIs.

A estimativa, segundo o estudo, pode ultrapassar R$ 900 bilhões nas próximas décadas, considerando o reajuste do salário mínimo.

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, a contadora e conselheira do Conselho Regional de Contabilidade de Pernambuco (CRC-PE) e do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas do Estado de Pernambuco (Sescap-PE), Joana Dark Nascimento, avaliou que a conta não fecha e que o modelo precisa ser reformulado com urgência.

Contribuição baixa, benefício alto

De acordo com Joana Dark, o valor pago pelos MEIs atualmente – equivalente a 5% do salário mínimo, cerca de R$ 75,90 – não cobre os benefícios recebidos no futuro. “Se você fizer um cálculo simples para a aposentadoria de 15 anos, ele pagando esse valor, quando se aposenta, em um ano ele já está devendo à Previdência em relação aos recebimentos que fez e ao que pagou”, explicou.

Ela reforça que o programa, criado para formalizar trabalhadores informais, perdeu o foco original. “O projeto é excelente para a parte social, mas o impacto fiscal é grande. Tem que ter compromisso com o futuro”, alertou.

Desvirtuamento do uso do MEI

A conselheira criticou o uso indevido da categoria por empresas que contratam apenas na condição de MEI, o que distorce o objetivo da legislação. “Tem pessoas hoje que só contratam se for MEI. Não está seguindo o curso correto”, afirmou. Segundo ela, "há muito desvio de caminho, do foco do que realmente é, para que foi criada essa modalidade de empresa”.

Ela afirma que o MEI é, na verdade, uma porta de entrada para o comércio, e não uma estrutura permanente. O ideal, segundo ela, seria que os empreendedores começassem como MEIs e, ao se organizarem e crescerem, migrassem para regimes como o Simples Nacional.

Falta de aporte do governo

Joana também criticou a ausência de repasses da União para compensar o impacto previdenciário causado pelo MEI. Segundo ela, o aporte já era previsto desde a criação da categoria, em 2008, mas nunca foi implementado de fato. Na avaliação da contadora, “se o governo quer políticas públicas, ele tem que também arcar com elas. Porque quem vai pagar?”

Ela lembra ainda que os benefícios previdenciários oferecidos ao MEI são os mesmos concedidos a trabalhadores que contribuem com alíquotas bem mais altas, que variam entre 7% e 20%. Essa equivalência, diz, amplia o desequilíbrio nas contas da Previdência.

Modelo previdenciário precisa ser revisto

Para a conselheira do CRC-PE, o modelo previdenciário atual foi pensado para trabalhadores com carteira assinada e não acompanha a realidade atual do mercado de trabalho. “Estamos precisando de um novo modelo para ter sustentabilidade, porque se não for alterado, não vai ter condições”, enfatiza.

Ela reforça que é preciso rever as regras, fiscalizar melhor quem se enquadra como MEI e cruzar dados da Receita Federal para evitar fraudes e registros irregulares. 

Quem deve ser MEI?

De acordo com Joana Dark, a categoria foi criada para trabalhadores informais que não tinham como contribuir com a Previdência, como vendedores ambulantes, pequenos comerciantes e prestadores de serviço que atuam de forma individual. Ela reforça que o MEI não deve ser um fim em si, mas sim uma etapa inicial no processo de crescimento do empreendedor.

Para a conselheira, acompanhar e orientar esses microempreendedores é essencial. “Sou socióloga também e acredito muito nas políticas públicas, mas com responsabilidade, tanto social quanto na parte fiscal”, conclui.

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