"A dose do remédio está muito alta": presidente da Fiepe critica alta da Selic
Bruno Veloso afirma que empresários resistem a financiamentos e alerta para estagnação da indústria em Pernambuco, que pode perder competitividade

Apesar do recuo recente da inflação, o Banco Central surpreendeu o mercado ao elevar a taxa básica de juros da economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual, chegando a 15% ao ano. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, a medida preocupa o setor produtivo e pode comprometer a retomada da atividade industrial no estado.
Impacto direto sobre a indústria
Segundo Veloso, os efeitos da taxa de juros em 15% ao ano são sentidos de forma ampla em toda a economia, mas atingem em cheio a indústria. “Uma taxa de juros de praticamente 10 pontos percentuais acima da inflação reduz drasticamente a atividade industrial e a atividade econômica”.
A indústria sofre, dado que os investimentos em equipamentos, que são pagos em prestações, terão juros mais altos. Isso significa que, até o investimento começar a gerar lucro, já se gastou bastante em taxas. Ele explica ainda que, o aumento encarece o crédito e reduz o poder de compra da população, afetando diretamente toda a cadeia produtiva.
Setores estratégicos ameaçados em Pernambuco
O setor automotivo instalado em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, é um exemplo de segmento ameaçado pelos juros altos, segundo Veloso. Uma vez que a população adquire veículos em prestações, o que caberia no bolso do cidadão em 18, 20 ou 36 meses, pode passar a não caber mais.
“Então, grande parte da população vai deixar de adquirir esse bem tão importante para a economia de Pernambuco. E vai provocar efetivamente uma redução das aquisições de produtos de longa durabilidade de maneira geral”.
Financiamento inacessível e estagnação industrial
Outro ponto levantado por Bruno Veloso é a dificuldade de acesso a linhas de financiamento. Embora o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste ofereçam crédito com juros menores, com a alta da Selic o empresário resiste a entrar no financiamento, porque não dá pra pagar. “E se nós continuarmos investindo cada vez menos, Pernambuco vai perder cada vez mais”.
O presidente da Fiepe critica o uso intensivo da política de juros como única resposta ao controle da inflação. Embora o Banco Central tenha autonomia para regular a Selic, ele acredita que o nível atual ultrapassa o limite do razoável.
“A dose está muito alta. Nós estamos já vivenciando uma queda muito forte da atividade industrial. Por exemplo, no primeiro trimestre deste ano, não houve crescimento da indústria, porque 0,1% não é crescimento. Nós estamos, praticamente, estagnados”.
Fiepe busca reverter cenário
A Federação das Indústrias, segundo Bruno Veloso, está em diálogo com os bancos para identificar por que os recursos com juros mais baixos têm chegado em volume tão pequeno ao setor industrial. “Nós não podemos ter um investimento desses recursos – que têm as taxas de juros mais baratas – com tanta insignificância dentro da indústria, em relação aos outros segmentos”.
Ele afirma que o problema é estrutural e que sua reversão é fundamental para garantir emprego, renda e desenvolvimento. “Isso é bom para o país. É bom para o emprego, é bom para a renda. É ali que conseguimos ter um colaborador que seja mais qualificado, que tenha uma renda melhor, e isso vai gerar também renda para toda a população”, conclui.