Protestos em Los Angeles: especialista explica tensão causada pelo envio de tropas por Trump
A Guarda Nacional foi enviada no sábado (7), após dois dias de protestos. Cerca de 2 mil soldados foram destacados e chegaram na manhã do domingo (8)

Protestos de imigrantes chegaram ao terceiro dia neste fim de semana, em Los Angeles. A tensão aumentou após Donald Trump enviar tropas federais para conter os manifestantes.
A medida, no entanto, gerou rejeição por parte do governador da Califórnia, estabelecendo um conflito institucional que reflete profundas diferenças históricas e políticas nos Estados Unidos.
Para compreender a gravidade dessa situação, é necessário analisar o sistema federativo americano, que, diferentemente do Brasil, surgiu a partir da união de estados autônomos em um país único.
Em entrevista ao Programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca que essa autonomia estadual é base fundamental para a democracia norte-americana e explica o choque provocado pela intervenção federal na Califórnia.
"Essa autonomia dos estados é essencial, ela é a base da criação da república nos Estados Unidos, da democracia nos Estados Unidos, e foi um processo pioneiro no mundo. É por isso que os Estados Unidos têm, já há muito tempo, é conhecido por ser a grande democracia do mundo ocidental", afirma Carolina Pedroso.
A Califórnia, em particular, é conhecida por sua tradição progressista e defesa dos direitos civis, sendo referência no país em questões relacionadas a liberdades individuais. Assim, a federalização das tropas para conter protestos neste estado representa uma ruptura incomum na cultura política americana.
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Federalização de tropas
Historicamente, a federalização das tropas estaduais ocorreu em situações excepcionais, como nos anos 1950 e 1960, durante a luta pelos direitos civis, quando o governo federal interveio para garantir que a população negra pudesse frequentar escolas e universidades, contrariando resistências locais.
""Não é normal. São sempre casos muito excepcionais e está sendo distorcida essa possibilidade da federalização para conter vozes que estão bastante críticas à política migratória do governo Trump", ressalta Carolina Pedroso.
Ela explica que o governo Trump justificou a medida com a alegação de manter a "lei e a ordem", argumentando que os protestos poderiam ameaçar a estabilidade política.
Imigrantes e mão de obra
A entrevista também abordou a política migratória do governo Trump, que defende a expulsão de imigrantes em situação irregular, frequentemente denominados pelo governo como "ilegais".
Carolina Pedroso questiona essa terminologia, explicando que, no direito internacional, não existe "ser humano ilegal", apenas situações migratórias irregulares.
Além disso, a professora destaca a dependência da economia americana de imigrantes para funções essenciais que a população nativa rejeita ocupar.
"Hoje a economia dos Estados Unidos depende muito da mão de obra de cidadãos ou de imigrantes que estão em condições econômicas menos vantajosas do que o cidadão médio norte-americano", destaca a especialista.
"Já temos até estudos que fazem esse mapeamento. Existem cidades e condados e estados, inclusive, dos Estados Unidos que não sobreviveriam muitos meses sem essa mão de obra. Ela é essencial para setores-chave, como por exemplo o setor da construção civil", finaliza.
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