Reprovação do governo Lula pode ser reflexo de problema na comunicação, avalia diretor da Quaest

Em entrevista à Rádio Jornal, Guilherme Russo apontou que há um cenário de estabilidade na avaliação, mesmo com números desfavoráveis

Publicado em 04/06/2025 às 11:28
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A pesquisa Genial Quest divulgada nesta quarta-feira (4) mostrou um cenário de estabilidade na avaliação do governo Lula, ainda que com o pior desempenho numérico da atual gestão. De acordo com o levantamento, 57% dos brasileiros desaprovam o governo, enquanto 40% aprovam.

Segundo Guilherme Russo, cientista político e diretor de inteligência da Quest, a pesquisa apresenta um quadro claro e coeso: “É importante lembrar que começamos o ano com uma queda forte na aprovação do governo, muito associada à crise do Pix e à inflação crescente”, disse em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

Um dos principais dados positivos para o governo Lula é a melhora na percepção da economia por parte da população. Segundo Russo, “os indicadores de percepção da população em relação à economia estão melhores”. Itens como combustíveis, água, luz e alimentos aparecem com menor peso no bolso do consumidor, o que representa um alívio para o Planalto.

“O governo teve algumas reações, e de certa forma esse era o ano da colheita, como o próprio Lula disse”, lembrou Russo. A queda na inflação e o crescimento econômico recente ajudam a explicar essa percepção menos negativa.

Entre os dados mais positivos da pesquisa, Russo destaca a queda no número de brasileiros que acham que a economia está pior: de 56% para 48%. “Sem dúvidas, a economia melhorar ajuda muito um governo”, disse.

Por outro lado, a insatisfação com o cumprimento das promessas de campanha também foi captada pela pesquisa. Sete em cada dez brasileiros afirmam que Lula não tem conseguido entregar o que prometeu, e 45% acham que o governo está pior do que esperavam.

Russo avalia que as expectativas foram elevadas na campanha, especialmente com a retórica sobre programas sociais e o retorno da “picanha e cerveja”. No entanto, o fator determinante para a frustração é a inflação. “Ela corrói o poder de compra e é sempre vista como culpa do governo, seja ele qual for. Essa é a principal razão que a população cita para a frustração”, afirmou.

Comunicação precisa ser mais eficaz

Apesar da melhora na economia, o principal fato lembrado pela população no período entre as pesquisas foi o escândalo no INSS, citado por 82% dos entrevistados. “Mesmo com a melhora na economia, a gente tem um resultado de estabilidade muito por conta desse cenário informacional negativo”, avaliou Russo.

Ele ressalta que há um descompasso entre os programas lançados pelo governo e o conhecimento da população sobre eles. “Quem sabe até aprova, mas ninguém está sabendo muito do que está acontecendo”, afirmou. Para ele, a comunicação do governo segue como um desafio central.

Apontando outro dado relevante para o governo, Russo reforçou a problemática da comunicação da gestão. "A população aprova as medidas do governo, o problema é que ela não conhece essas medidas”.

Para o cientista político, isso representa um potencial inexplorado. “É uma questão de tempo e de comunicação. Parte do problema é que as pessoas não sabem o que esse governo fez, especialmente em comparação com os primeiros mandatos do Lula”, concluiu.

Entretanto, ele pondera que o cenário informacional se tornou mais complexo nas últimas décadas: “Hoje em dia é muita informação acontecendo ao mesmo tempo com redes sociais. Então o governo precisa criar um aparato de comunicação muito mais complexo e que consiga dialogar com os diferentes meios”.

Perda de apoio entre católicos

A pesquisa também registrou um aumento na desaprovação do governo entre católicos: 53% desaprovam Lula, enquanto 45% aprovam. Para Russo, a mudança ainda é leve e não configura uma ruptura, mas acende um alerta para o Planalto: “O governo Lula vai ter dificuldades nas pautas morais, que são muito fortes entre os evangélicos e agora começam a afetar também os católicos”.

Segundo ele, há um movimento de ajuste na comunicação, com o governo buscando se aproximar do discurso religioso. “A fala do Sidônio pedindo para o Lula trazer mais Deus para a comunicação mostra esse esforço”, explicou.

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