Chuvas no Recife: planejamento permanente e adaptação são caminhos urgentes
Após dias de fortes chuvas, especialistas discutem na Rádio Jornal a necessidade de planejamento e adaptação para a cidade conviver com a água

Após a intensidade das chuvas que atingiram o Recife e municípios da Região Metropolitana na última quarta-feira (21), levando o Centro de Operações do Recife (COP) a declarar "estágio de atenção" e orientar a população a evitar deslocamentos, especialistas reuniram-se na Super Manhã da Rádio Jornal nesta quinta-feira (22) para debater a situação.
Com vias alagadas e serviços suspensos, o cenário da Região Metropolitana voltou a preocupar, evidenciando a necessidade de preparação para o período de inverno que se aproxima.
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Roberto Montezuma, arquiteto e urbanista e professor da UFPE, criticou a lógica urbanística que deu as costas às águas, tornando o Recife uma cidade "rodoviária" no século XX, em contraste com sua natureza "aquática" e "anfíbia". Ele defendeu uma mudança cultural para ser "amigo das águas", convivendo com elas, protegendo e adaptando-se, em vez de vê-las como inimigas.
Para Montezuma, é crucial "voltar ao planejamento da cidade, não pensar mais que simplesmente deixa a coisa acontecer, mas é necessária essa mudança cultural". Ele citou o drama do Rio Grande do Sul para reforçar a importância de compreender as bacias hidrográficas e não ocupar os espaços que a natureza reivindica.
A pesquisadora Soraia Eldeir, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), corroborou que os impactos das chuvas refletem políticas públicas e conceitos. Ela destacou a importância de ir além da infraestrutura, fiscalização e serviço, investindo em "educação para sustentabilidade, muito de educação para adaptação climática...".
Eldeir defendeu o conceito de "cidades esponja" e a "renaturalização de margens de rios, de corpos hídricos, da gente colocar de volta o que tinha de mata ciliar e de toda vegetação".
Ela lamentou que, apesar de uma legislação ambiental "extremamente bem feita no país", esta não é plenamente seguida e enfrenta tentativas de flexibilização. Para ela, a mudança de cenário é possível, mas esbarra na falta de recursos comparada a países mais ricos.
Preparação, risco e recursos: a visão da defesa civil
O Coronel Clóvis Ramalho, secretário executivo de Proteção e Defesa Civil de Pernambuco, explicou que a Defesa Civil atua como um sistema, integrando diversos atores do Estado, municípios, universidades e comunidades em cinco ciclos: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. "Defesa Civil é sistema... e por ser sistema há uma integração de vários atores".
Ele citou obras macro de prevenção, como a contenção de encostas em Jardim Monte Verde, drenagem no Canal do Fragoso e barragens na Mata Sul. Há também a previsão de início da licitação para a Barragem do Engenho Pereira, importante para Moreno e Jaboatão.
Ramalho ressaltou que a demanda por obras de prevenção em Pernambuco é gigantesca, exigindo um montante orçamentário muito grande. Cerca de um milhão de pessoas na RMR, o equivalente a um quarto da população, mora em áreas de risco, incluindo risco hidrológico e hidrogeológico.
Embora o investimento estadual em desastres tenha aumentado (de R$ 11 milhões em 2022 para R$ 79 milhões em 2024), as transferências federais diminuíram significativamente (de R$ 195 milhões em 2020 para R$ 70,5 milhões em 2022, segundo ONG Contas Abertas).
Diante da dificuldade de realocar todas as pessoas, a Defesa Civil investe fortemente em conscientização e sistemas de alerta via SMS (40199 + CEP), WhatsApp e o futuro Defesa Civil Alerta (que não exige cadastro para smartphones recentes em áreas de cobertura 4G/5G).