"FMI faz sempre uma varredura nos países para identificar problemas", diz André Roncaglia, diretor-executivo do Brasil no fundo

Economista está no cargo desde 2024 e explicou o papel da instituição, as atribuições do Brasil e os principais desafios econômicos do país

Publicado em 14/05/2025 às 14:32
Google News

Em entrevista à Rádio Jornal, realizada na manhã desta quarta-feira (14), o economista André Roncaglia, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), explicou o papel da instituição, as atribuições do Brasil e os principais desafios econômicos do país. A conversa foi ao ar durante o programa Passando a Limpo.

Assista a entrevista completa

O papel do Brasil dentro do FMI

O Brasil não possui atualmente nenhum programa de empréstimo com o FMI. Pelo contrário: é credor do fundo. Isso, segundo Roncaglia, dá ao país uma posição de destaque dentro do conselho executivo da entidade.

O Brasil é credor do FMI e não tem mais nenhum programa com o fundo. Nesse sentido, isso dá o Brasil uma uma autoridade para participar do conselho executivo de uma maneira bem diferente, contribuindo com a governança do fundo, fazendo com que esse bem público que o fundo oferece, que é monitoramento e tentativa de evitar crises cambiais, seja feito da melhor maneira possível”, afirmou.

Como membro de um grupo de 191 países, o Brasil participa da formulação de pareceres sobre políticas macroeconômicas e programas que podem afetar a estabilidade econômica de outros países.

Monitoramento global e foco em estabilidade

Um dos principais serviços prestados pelo FMI é a auditoria econômica realizada anualmente em cada país-membro.

Todo ano o FMI vai aos 191 países, identifica como a economia tá funcionando, se tem foco de instabilidade, se pode melhorar, por exemplo, a questão fiscal, onde que pode melhorar a governança na área monetária [...] ele faz sempre essa varredura nos países para identificar problemas”, disse.

O objetivo do fundo é evitar crises cambiais, apontar fragilidades nas contas públicas e sugerir caminhos para o crescimento sustentável.

O impacto da economia global no Brasil

André Roncaglia destacou que a instabilidade global tem forte influência na economia brasileira, especialmente no câmbio.

A gente tem muitos desafios no plano fiscal no Brasil, mas certamente tem um Banco Central vigilante e que não tá medindo o seu comprometimento com trazer a inflação para a meta [...] Se a gente pegar a volatilidade, a variação do câmbio no Brasil, mais de 60% é resultado de incerteza global ou medidas tomadas pelo governo norte-americano”, revelou.

O economista também mencionou os efeitos de mudanças políticas internacionais, como a nova gestão de Donald Trump nos Estados Unidos, que impactam diretamente a política comercial e monetária global.

.

Esforço por uma estabilidade com justiça social

Roncaglia também atua na elaboração de pareceres que influenciam decisões da entidade. Ele defende que os ajustes fiscais sejam feitos com foco em justiça social.

O meu papel como diretor é fazer pareceres nos programas, nas decisões do fundo, para que garantam, por exemplo, o aumento de emprego, principalmente participação feminina, garantindo um crescimento que seja inclusivo do ponto de vista ambiental e social [...] e que quando houver a necessidade de ajuste fiscal, que seja feita com justiça tributária”, disse.

Segundo ele, a estabilidade macroeconômica é um instrumento importante para combater a desigualdade social, ainda que esse não seja o objetivo principal do FMI.

Se não resolver o problema da desigualdade, porque esse não é um mandato do fundo, pelo menos tentar na medida do possível garantir que a estabilidade macroeconômica amenize os problemas da desigualdade. E uma delas é controlar a inflação. A inflação controlada garante que pelo menos não piore a desigualdade”, afirmou.

Um olhar mais equilibrado para os países

Roncaglia reforça que o seu papel dentro do conselho executivo é contribuir para um FMI mais sensível às realidades políticas e sociais de cada nação.

O nosso papel aqui dentro do conselho executivo é tentar, na medida do possível, fazer com que o FMI olhe de uma maneira equilibrada para os países, socorrendo quando for necessário [...] e de certa forma também garantir a relação desse pleito das maiorias das democracias também com a estabilidade macroeconômica”, pontuou.

Saiba como acessar o JC Premium

Tags

Autor