Os papas que marcaram a história: de João XXIII a Francisco
Entrevista com historiador analisa as transformações e desafios enfrentados por papas que influenciaram rumos da Igreja no último século

Ao longo dos séculos, o papado tem refletido as tensões internas da Igreja Católica entre tradição e modernidade. Essa oscilação entre pontífices conservadores e reformistas é um traço marcante da história do Vaticano.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o historiador Filipe Domingues — mestre em História e doutorando em Ciências da Religião pela Unicap — destacou nomes como João XXIII, João Paulo II e o Papa Francisco como figuras centrais para entender essa dinâmica.
Morte do Papa Francisco
"Com toda a certeza, o Papa Francisco entrará para a história como um papa do acolhimento e como um papa reformista, sim", afirma Filipe.
Segundo ele, mesmo diante de resistências internas, o atual pontífice manteve-se fiel a um projeto de abertura da Igreja.
"Por mais que ele quisesse fazer reformas mais profundas, existem correntes e estruturas conservadoras dentro da Igreja Católica", explica, ressaltando que a instituição não é homogênea.
Francisco, segundo o historiador, retoma a proposta do Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII, que revolucionou a Igreja ao reafirmar sua opção preferencial pelos pobres.
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João XXIII
Filipe explica que a opção preferencial pela igreja, antes do Conselho Vaticano II, em 1961, convocado pelo papa João XXIII, também era um papa reformista.
Apelidado de "Papa Sorriso", João XXIII tinha caráter reformista, mas faleceu durante o conselho. Assim, ocorreu o Conclave que elegeu Paulo VI. "E Paulo VI não foi tão reformista quanto João XXIII", destaca o historiador.
"Então, eu penso que o papa Francisco faz essa conexão com a origem do Vaticano II, com o papa que o convocou, que é João XXIII, que deveria ser a opção preferencial pelos pobres, e não pelos nobres", diz Filipe.
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Futuro do papado
Questionado sobre o padrão de alternância entre papas conservadores e reformistas, o historiador pondera: "Não necessariamente depois de um progressista virá um conservador", salienta o mestre em história.
"A igreja é uma instituição de milenar, e ela procura uma acomodação de suas estruturas", ressalta o especialista.
Ele também reforça que, muitas vezes, críticas a Francisco partem de uma incompreensão da doutrina social da Igreja: “Porque chamar o Papa Francisco de comunista, de marxista, é não entender o que é a doutrina social da Igreja, o que é a caridade”.
Outro fator a ser considerado na escolha de um novo pontífice, segundo Filipe, é a idade dos cardeais: “A questão de ser eleito um cardeal muito jovem, para um padrão de cardeal, é que certamente o seu pontificado pode ser muito longevo. Então, um Papa que governe a Igreja por décadas deixa uma marca muito indeleta”.
Isso, segundo ele, pesa na hora da votação: “Eleger hoje, no século XXI, um Papa muito jovem, é poder ser um Papa que governe por muitos e muitos anos”. E completa: “Você vê, tem cardeais que têm 57 anos, como Dom Paulo César Costa. Tem outros que vivem até os 90. Imagina um papado de 40 ou 50 anos”.
Confira a entrevista na íntegra