Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson, destaca legado do Papa Francisco
À Rádio Jornal, arcebispo diz que semente plantada por Francisco germinou e que novo papa será escolhido a partir do discernimento espiritual

O Papa Francisco faleceu na manhã desta segunda-feira (21), aos 88 anos, na Casa Santa Marta, no Vaticano. O argentino Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro papa jesuíta e também o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica.
Desde o início de 2024, sua saúde vinha inspirando cuidados, com episódios recorrentes de problemas respiratórios. Ele chegou a ser internado em fevereiro com pneumonia e foi submetido a tratamentos intensivos. No domingo de Páscoa, 20 de abril, fez sua última aparição pública.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta segunda-feira (21), o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson, comentou o falecimento do Papa Francisco e refletiu sobre o legado deixado pelo pontífice argentino.
Para o arcebispo, Francisco ficará marcado por seu perfil contemplativo e por sua ação profética em temas sociais e eclesiais.
“Francisco foi um homem do silêncio, do discernimento e da esperança. Não sem motivo, ele morre exatamente na segunda-feira depois do Domingo de Páscoa e há poucos dias havia convocado um jubileu cujo tema é Peregrinos de Esperança”, afirmou Dom Paulo.
O arcebispo ressaltou ainda o papel de Francisco como reformador e defensor dos mais vulneráveis: “Francisco é um profeta, sobretudo no nível da sua reflexão e das suas denúncias em relação aos migrantes e também na temática da paz”.
"Ele enfrentou os escândalos e propôs uma igreja mais simples"
Durante a entrevista, Dom Paulo lembrou os desafios enfrentados por Francisco dentro da própria Igreja, como os escândalos financeiros no Banco do Vaticano e os casos de abusos sexuais.
“Mais inclusive do que todas as outras instituições, nós enfrentamos a problemática dos abusos, enquanto estas instituições até hoje mantiveram também o seu mea-culpa”.
Segundo ele, o Papa também propôs uma nova visão de Igreja: “Uma igreja mais simples, não clericalizada, uma igreja samaritana, missionária, que não seja autorreferencial. Ele trouxe para dentro da reflexão da Igreja a temática da ecologia integral e sempre manteve um carinho de bom humor”.
Dom Paulo contou ter estado pessoalmente com Francisco em quatro ocasiões: “Sempre o encontro com ele foi muito marcado pelo bom humor, pelo riso e por uma palavra franca, aberta e acolhedora”.
“A Igreja não se move por avanço ou retrocesso, mas por consenso”
Questionado sobre o futuro da Igreja com a escolha do novo pontífice, Dom Paulo evitou traçar projeções com base em critérios políticos ou ideológicos.
“A Igreja não se move por essa linguagem do avanço e do retrocesso. A Igreja se move pelos consensos, e o consenso é sempre guiado pelo Espírito Santo”, disse.
Ele destacou a importância da escuta espiritual no processo de escolha: “O Espírito Santo vai guiando por caminhos às vezes inauditos, misteriosos e que nós não conseguimos entender tudo naquela hora. Mas eu confio plenamente na ação do Espírito”.