Empregos mal remunerados e inflação geram frustração e desgastam governo Lula, avalia cientista político

Especialista analisa impacto da precarização do emprego e das memórias do lulismo nas avaliações do governo e nos cenários eleitorais futuros

Publicado em 17/04/2025 às 14:20
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Em entrevista ao programa Passando a Limpo desta quinta-feira (17), na Rádio Jornal, o cientista político Adriano Oliveira falou sobre como a insatisfação de trabalhadores com carteira assinada tem influenciado a avaliação do governo Lula. Segundo ele, essa percepção negativa, revelada a partir de pesquisas qualitativas, deve influenciar de forma significativa o cenário eleitoral para 2026.

Ao comentar sobre o mercado de trabalho, Adriano Oliveira afirmou que, embora o país esteja enfrentando baixos índices de desemprego no governo petista, a qualidade dos empregos formais tem piorado, o que ajuda a puxar a popularidade do presidente Lula para baixo entre os trabalhadores com carteira assinada.

“É importante salientar que quando nós observamos especificamente o mercado de trabalho formal, nós encontramos a precarização. O Brasil vive hoje com baixo desemprego, todavia esse emprego formal está precarizado”, disse Oliveira.

O cientista explicou que os postos que mais crescem são justamente aqueles pagam mal, em um contexto de encarecimento do custo de vida. “Precarizado por quê? Porque os empregos que mais crescem são aqueles empregos que têm uma baixa remuneração. E, consequentemente, isso gera nessas pessoas uma insatisfação.”

Oliveira também apontou a inflação dos alimentos como um agravante nesse sentimento de frustração: “Some-se ao fato também que essa insatisfação é salarial e essa insatisfação vem a ser reforçada, aumentada pela inflação de alimentos. Portanto, nós temos hoje no Brasil um ambiente de mal-estar. Esse ambiente de mal-estar faz com que o presidente Lula, o seu governo, tenha uma baixa avaliação”.

Comunicação do governo e memória dos eleitores

Em declarações recentes, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, apontou que a comunicação do governo Lula vinha falhando por não explorar a situação do país herdada da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para Adriano Oliveira, Palmeira tem razão, em partes, “porque as pesquisas qualitativas mostram que o presidente Lula mudou o Brasil em relação ao presidente Jair Bolsonaro”. Contudo, ele ressaltou que essa explicação é insuficiente.

O cientista político afirma que o eleitorado compara o atual governo não apenas com a gestão anterior, mas também com os mandatos anteriores do próprio Lula. “As pessoas votaram em Lula porque tinham a memória positiva das eras anteriores do governo Lula. E hoje, as pesquisas qualitativas têm mostrado o governo Lula é comparado com seus governos passados”.

Segundo Oliveira, as políticas sociais implementadas por Lula deixaram de ser novidade para grande parte da população e, por isso, não geram mais o mesmo entusiasmo, porque já estão institucionalizadas - e a população quer mesmo é melhorar de vida.

“O que os brasileiros reclamam hoje é se eu sou celetista, meu trabalho está precarizado, eu vou no supermercado, a inflação está prejudicando o meu poder de compra, eu sou empreendedor, mas eu não estou conseguindo melhorar de vida”, afirmou o cientista.

“O governo Lula não é um governo inovador, ele só fala em programas sociais. [...] Mas volto a dizer, o eleitor quer mais, ele quer dar um upgrade na sua vida, ele tem sonhos”, complementou.

Dois caminhos possíveis para 2026

Com base nas análises qualitativas, o cientista político traçou dois possíveis cenários para as eleições presidenciais de 2026. No primeiro, o presidente Lula disputaria com um ou mais candidatos alinhados ao bolsonarismo, mantendo uma base de apoio entre 40% e 45% da população.

“O presidente Lula, com a popularidade de 40%, 45%, disputando com um ou mais candidatos os bolsonarizados. [...] Qual vai ser o discurso do presidente Lula? É muito simples a estratégia. É mostrar como o Bolsonaro tratou o Brasil na pandemia, é mostrar como o Bolsonaro atacou as instituições, é mostrar como era a economia, as políticas sociais no governo Bolsonaro. E dizer que Lula modificou o Brasil”, explicou.

Oliveira ressaltou que a narrativa petista deverá enfatizar o contraste com a gestão anterior: “Se Lula não tivesse assumido em 2022, o Brasil hoje poderia ser uma ditadura e poderia estar muito pior. Essa é a narrativa que o PT vai contar em 2026.”

Já no segundo cenário, o presidente enfrentaria um adversário mais distante do bolsonarismo, como Tarcísio Freitas ou Ratinho Júnior, que poderiam adotar um discurso conciliador e mais distante da polarização, o que poderia dificultar a eleição para Lula.

“Esse candidato diz, ‘tá bom de Bolsonaro e tá bom de Lula, vamos construir o Brasil do futuro sem conflitos’. Nesse segundo cenário, o presidente Lula terá dificuldade de vencer a eleição, mas no primeiro cenário o presidente Lula é favorito”, concluiu o cientista político.

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