Conflito comercial entre EUA e China acirra tensões globais e pode abrir espaço para o Brasil

Especialista aponta riscos da postura de Trump e ressalta que o momento exige preparo diplomático do Brasil para transformar tensões em oportunidades

Publicado em 08/04/2025 às 13:39
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A escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China voltou a ganhar força nos últimos dias, com novos anúncios de tarifas de ambos os lados. Na sexta-feira (4), Pequim anunciou a imposição de tarifas de 34% sobre produtos americanos, em resposta ao “tarifaço” anunciado por Donald Trump na quarta-feira (2).

Em retaliação, o presidente americano ameaçou nesta segunda-feira (7) aumentar ainda mais os impostos sobre produtos chineses, elevando-os em até 50% caso a China não recue.

O impacto dessas medidas já começou a ser sentido nas bolsas internacionais. As principais bolsas asiáticas fecharam em forte queda após o anúncio chinês, e os mercados europeus seguiram o mesmo caminho, com retrações generalizadas próximas dos 6%.

No programa Passando a Limpo desta terça-feira (8), na Rádio Jornal, Arthur Pimentel, presidente do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), analisou os desdobramentos do conflito, criticou a postura de Trump e apontou possíveis oportunidades para o Brasil nesse cenário.

Estratégia arriscada

Pimentel chamou atenção para os riscos da estratégia pouco diplomática adotada por Trump, destacando que, apesar do discurso agressivo do presidente americano, já existe um movimento interno nos Estados Unidos de insatisfação com os rumos da política comercial.

“Os Estados Unidos são grandes dependentes de compras externas e já há sinais de insatisfação interna. A gente escuta, lê que há movimentos internos nos Estados Unidos, até de aliados de Trump, que dizem: olha, não é bem assim, cuidado, bota um freio aí, chama para conversa, porque o trato diplomático é diferente”, afirmou o especialista.

Segundo ele, a atitude unilateral do governo Trump pode acabar prejudicando mais os próprios Estados Unidos do que a China. “Acho que essa tática pode, talvez, prejudicar mais os Estados Unidos do que causar um possível retorno de uma situação que ele imagina”, afirmou, referindo-se ao que ele chama de desejo de retornar aos anos 1970, quando a economia americana estava aquecida internamente, com o boom automobilístico de Detroit, por exemplo.

Mas para Pimentel, ainda há tempo para um reposicionamento diplomático: “Acho que não custa amenizar e chamar para conversar, esse para mim seria o tom. Ainda está na hora dele fazer isso, antes que aconteçam implicações comerciais maiores”.

Riscos e oportunidades para o Brasil

Diante do embate entre as duas maiores economias do mundo, o Brasil aparece como um possível beneficiário, desde que saiba aproveitar o momento com estratégia e preparo.

Pimentel observa que as transformações no comércio internacional, como a crescente desdolarização e o fortalecimento de alternativas, como uma moeda do BRICS e o PIX internacional, possibilidade já sondada pelo bloco econômico, mostram que o cenário está em mutação e pode beneficiar países que estejam atentos.

“Você vê que ninguém acreditava no BRICS, mas já estamos aí falando de PIX internacional, já está acontecendo, ou seja, já estão afastando o dólar das negociações internacionais como parâmetro básico”, destacou.

No entanto, o especialista também fez uma crítica direta à falta de preparação do Brasil para atuar com protagonismo nesse novo contexto: “Tenho certeza que o Brasil ainda não está diplomaticamente preparado para conversar, para se impor como uma nação importante, celeiro do mundo, exportador”.

Apesar disso, ele acredita que o Brasil pode e deve se posicionar melhor, especialmente ao considerar sua importância como parceiro comercial dos EUA e da China. “Grandes empresas nacionais já estão lá nos Estados Unidos, então eu acho que tem que conversar, diversificar esse papo, amenizar um pouquinho o tom, porque eu acho que o perigo maior para essa ação do Trump não está no mercado externo [...] a voz do mercado fala mais forte, é mais alta, tem mais força.”

O conflito, ainda que represente um risco para o comércio global, pode abrir portas para o Brasil em setores estratégicos, como alimentos, energia e tecnologia. Mas o país precisa estar atento e agir com profissionalismo.

“Qualquer conflito comercial que haja entre todas essas narrativas, vai abrir oportunidade para o Brasil, e a gente tem que ficar atento, e esse também é o nosso receio. O Brasil precisa estar profissionalmente atento, diplomaticamente preparado para essas grandes oportunidades que poderão surgir”, concluiu Pimentel.

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