Papel da imprensa regional e o futuro do jornalismo são destaques de debate na Rádio Jornal
Em comemoração aos 106 anos do JC, especialistas discutem os desafios do jornalismo e seu papel na democracia no Debate da Super Manhã

O Debate da Super Manhã desta quinta-feira (3), na Rádio Jornal, trouxe à tona discussões sobre a importância e os desafios do jornalismo regional, em um dia marcante para o setor: o Jornal do Commercio celebra seus 106 anos de existência e lança o Portal SJCC, um novo espaço digital para integrar suas marcas, incluindo a Rádio Jornal e a TV Jornal.
Sob a mediação de Natália Ribeiro, o debate reuniu Laurindo Ferreira, diretor de jornalismo do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação; Linda Bezerra, editora-chefe do Jornal Correio da Bahia; e Carlos Mazza, colunista do Jornal O Povo, do Ceará.
O debate abordou a importância da imprensa regional, os desafios tecnológicos e ideológicos enfrentados pelo jornalismo e a necessidade da preservação da credibilidade da informação.
O impacto do jornalismo na sociedade
Ao discutir o papel essencial do jornalismo, Laurindo Ferreira destacou a necessidade de uma imprensa forte para a manutenção da democracia.
"A construção da relevância dos jornalistas sempre foi muito presente, mas hoje ela é uma necessidade fundamental. Não há consolidação de democracia, não há estado de direito, respeito aos direitos humanos e à diversidade se a gente não tiver uma imprensa livre e forte, e particularmente uma imprensa regional”, afirmou, destacando a importância do trabalho feito pelos veículos representados no debate.
Carlos Mazza ressaltou os desafios que a profissão enfrenta diante das mudanças tecnológicas e ideológicas, mas reforçou que o jornalismo seguirá se reinventando.
"Nossa profissão ainda vai passar por muitas provações, como as correntes ideológicas que escolhem o jornalista como inimigo, e desafios tecnológicos, como a inteligência artificial. Mas através de muito trabalho, o jornalismo vai se modernizar e continuar vivendo”, disse o colunista do O Povo.
Para Linda Bezerra, a luta contra as fake news é uma das grandes responsabilidades do setor. "O jornalismo caminha sempre buscando a verdade, e a gente sabe que a internet tem sido um lugar de muita mentira”, afirmou a jornalista, que também chamou atenção para a responsabilidade do poder público nesse combate. “O que o mundo quer deixar de legado para as próximas gerações? Mentira ou verdade?", indagou.
A força do jornalismo regional
Os convidados destacaram o papel fundamental da imprensa local na cobertura dos acontecimentos de suas regiões e na pressão por políticas públicas que transformem a realidade do Nordeste.
Laurindo Ferreira enfatizou a importância da imprensa regional na construção da identidade nordestina e no reconhecimento de seu potencial. "Ninguém pode falar melhor do Ceará do que o jornal O Povo e outros jornais cearenses, assim como ninguém pode falar melhor de Pernambuco do que o Jornal do Commercio.”
O diretor de jornalismo do SJCC também defendeu que o fortalecimento e a união da imprensa regional como fundamental para o equilíbrio político e econômico da região Nordeste, “para que o Brasil entenda que o Nordeste tem potencialidades, que não é só um consumidor voraz do Bolsa Família. Nordeste tem tecnologia, turismo, indústria, boas universidades. Também tem miséria, fome e seca, mas nós não somos só isso. E essa construção está na agenda da gente, nós temos esse papel.”
Imparcialidade e a posição do jornalismo
Um dos pontos mais debatidos foi a questão da imparcialidade jornalística. Linda Bezerra foi categórica ao afirmar que o jornalismo tem lado, e esse lado é o do leitor. "E qual é o lado do leitor? São os múltiplos lados que a informação tem”, afirmou. “Quanto mais você dá uma informação com o máximo de olhares, melhor você informa.”
Sobre imparcialidade, Linda opinou que quando um jornalista escolhe uma palavra, ele já está sendo parcial. “Todos nós jornalistas temos nossa história, nosso olhar de mundo e nossa vida pessoal. Quando você vai narrar um fato, você apura as informações, mas elas são apuradas sobre o seu ponto de vista.”
No entanto, ela defendeu que para ultrapassar isso, é necessário que a informação seja dada “com a verdade e com todos os aspectos que ela tem, com a pluralidade da informação”.
Carlos Mazza reforçou que há princípios inegociáveis no jornalismo. "Democracia, direitos humanos e leis devem ser perseguidos pelos jornalistas, independentemente de viés ideológico. Embora imparcialidade plena não exista, temos mecanismos como profissionalismo, objetividade e checagem para garantir a qualidade da informação."
Já Laurindo Ferreira chamou atenção para a necessidade de respeitar os fatos, algo que tem sido desafiado por movimentos negacionistas e pela propagação de opiniões na internet. "O problema é que hoje há um movimento de negação. As pessoas brigam com os fatos, e jornalista não pode fazer isso”, disse. “O jornalismo apura e informa, mesmo que isso signifique dizer algo que muita gente não quer ouvir."
"O que nos diferenciará da IA é exatamente o poder de análise e de opinião abalizada em fatos”, complementou Linda Bezerra. Ela destacou o papel privilegiado de acesso à informação que os jornalistas têm, por sua função social.
“Jornais têm acesso aos bastidores da informação e credibilidade. É essencial trazer esse conhecimento ao leitor, desde que haja transparência na distinção entre opinião e reportagem”, afirmou a jornalista.